top of page

SAN JUAN DIEGO

09 de Dezembro

 

 

       Nasceu em 1474, originário do bairro de “Tlayácac” em “Cuautitlán” (20 km ano norte da cidade do México). Seu nome era “Cuauhtlatóhuac” com a terminação “tzin”: “Cuauhtlatoatzin” que significa“o que fala como águia” ou “águia que fala”. Tinha 57 anos no período das aparições

         Casou-se com Maria Lucia, não tiveram filhos, mas adotaram um menino.

        Em 1526, recebeu o batismo junto com sua esposa e seu tio Juan Bernardino, no templo de Santiago Tlaltelolco.

         Após a morte de sua esposa em 1529, passou a viver com seu tio em Tulpetlac.

       Os Códices e a tradição apresentam Juan Diego“Ce Ma- cehualtzintli” ou “macehualli”, significa “um homem honrável do povo”. Seu caráter é humilde e sua vida simples. Não pertencia à classe dos comerciantes, sacerdotes, funcionários do império ou soldados, nem mesmo a classe de escravos.

        Era conhecido entre todos como homem bom e justo. Muito devoto, religioso, reservado e de caráter místico, praticava longas e simples penitências, mesmo antes de sua conversão.

      Nas primeiras horas do dia, caminhava descalço como todos de sua classe, nos dias de frio usava sandálias confeccionadas de fibras de vegetais e peles, desde seu povoado até Tenochtitlán, a 20km de distância (3 horas de caminhada) pelas montanhas e povoados, para receber instrução religiosa e assistência a Santa Missa, todo Sábado e Domingo. Foi numa de suas caminhadas que aconteceu a primeira aparição.

    Sua atividade profissional consistia em tecer tapetes e cuidar de suas terras. Tinha algumas propriedades, uma onde habitava seu tio (atual templo de Nossa Senhora da Saúde) e outros bens que doou depois das aparições.

         No mesmo dia em que o  Manto  foi  transladado,  Juan  Diego

deixou sua casa e sob autorização do Bispo, foi viver num quartinho

ao lado da capela. Passou a  servir  no  templo,  desempenhando  as

tarefas de varrer, limpar e cuidar de tudo  que  era  necessário  para

a capela, com humildade, prontidão e devoção. Ficava longas  horas

em oração diante do Manto.

         Com autorização do  Bispo  comungava  3  vezes  ao  dia,  ato

muito raro até então e exercitava a  mortificação  e  jejuns,  dedicou

-se a uma vida muito exemplar e as pessoas o consideravam santo.

         Atendia os peregrinos com muita atenção e passou o resto de 

sua  vida  completamente  dedicado   ao   relato   das   aparições   a

população.

         Carregou consigo um manto copiado do original,  que  deixou

de herança para seu  filho  adotivo,  que  passou  a  seu  neto  e  foi

parar nas mãos de um sacerdote de Querétaro, onde se perdeu.

       Juan Diego viveu até aos 74 anos, depois de ter morado durante 17 anos junto à primeira ermida construída para prestar culto a Santa Maria de Guadalupe.

         Faleceu no dia 12 de Junho de 1548, tal qual o bispo Frei Juan de Zumárraga. Foi sepultado junto a seu tio na primeira capela dedicada e Virgem de Guadalupe.

           A sua canonização ocorreu em 31 de Julho de 2002.

 

REGIÃO ONDE MORAVA 

       A região estava muito próxima do grande lago de onde emergia a grande cidade asteca: “Tenochtitlan”, com suas numerosas pirâmides e templos ornados com pedra polida.

     Desde o vale do “Tepeyac” podia se ver a cidade sagrada, rodeada de ruas e numerosos canais que cortavam Tenochtitlan. Podia ver desde o topo das montanhas da região, dos palácios e casas do México, de cores brancas e seus terraços decorados com muitas flores. Em direção ao sul, final do vale prevalecia a cor verde dos pinheiros e cedros, vegetação típica do clima frio.  O clima da região é tropical, mas pela altura que está do nível do mar, torna os dias e as noites muito frescos, na maior parte do ano.

Nos canais muitas famílias viviam em balsas chamadas “chinampas” onde cultivavam hortaliças e flores, que vendiam na cidade.

    Ao lado do nascente podia avistar o cume de 2 grandes vulcões, guardiões do vale do México: ‘Popocatepetl” (com 5.000m de altura) e o “Iztaccihuatl”.

FAMÍLIA E EDUCAÇÃO

 

       Os antepassados de Juan Diego faziam parte do povo “Chichimeca”. Uma tribo nômade que se destacou na história como um grande povo por sua audácia. Buscavam instrução cultural e muitos encontravam alto grau de civilidade e sabedoria.

       Na antiguidade viviam em grupos isolados no norte do país.

       Foram responsáveis pela conquista, sem muitos esforços, dos grupos toltecas, habitantes do centro do país. Esse grupo era bastante conhecido pelo grande poder que exerciam, pelas habilidades em lapidar pedras preciosas, pela fabricação de roupas, adereços com penas de aves tropicais, pela arquitetura de luxo refinado e também simples.

       Dessa conquista herdaram o aprendizado desses ofícios e o idioma náhuatl (asteca).

     Aperfeiçoaram a medicina herbácea, a pintura, a carpintaria, alvenaria, a tecelagem, o trabalho com louças e a exploração de minas de ouro, prata, cobre e estanho.

      Mas de tudo que aprenderam, o maior tesouro foi a religião de um só Deus, Senhor e Criador, ao qual davam muitos nomes. Conheceram os principais atributos do Deus verdadeiro por meio da luz da inteligência. Junto com essa sabedoria veio algo da filosofia oriental de opostos complementares, como a noite complementa o dia, a juventude a velhice, o homem a mulher.

   Nos costumes eram conhecidos pela bondade e vivência das virtudes. Tinham como norma os ensinamentos de “Quetzalcoatl” – serpente emplumada.

      No século XII abandonaram as regiões conquistadas onde viveram seus antepassados e se instalaram no vale “Anáhuac”, próximo da atual cidade do México.

     Seus domínios foram se estendendo pouco a pouco, até que fundaram uma cidade que se tornou em seguida sua capital: “Tetzcoco”, ao redor de um grande lago.

       Sua família possuía terras de lavouras em diferentes lugares.

     Em 1325, os “mexicas” de diferentes etnias, uma nova e pobre população começou assentar-se nas pequenas ilhas do centro do lago, uma vez que não encontravam lugar nas margens.

      Os “mexicas”  criaram uma divindade para representar o ser que ninguém pode  ver,  de  forte  relação com a dos “chichimecas” e “toltecas”. Tal divindade deixava-se ver através da plenitude do sol, o chamavam de “Huitzilopochtli”.

    Apesar de terem chegado à região em estado de extrema pobreza, sem lugar certo, decidiram permanecer por causa da lenda que acompanhou toda a história de seu povo: a terra prometida, onde encontrariam uma águia devorando uma serpente e se estabeleceriam formando uma grande e próspera civilização.

     Alguns Códices descrevem no centro do lago uma águia devorando uma serpente sobre um cacto. Nessas pequenas ilhas arenosas onde viram o animal alado, fixaram residência e passados os séculos já haviam conseguido o que parecia impossível: construir uma cidade imponente sobre o lago, verdadeiro porto de riquezas e poder.

        Seus habitantes ficaram conhecidos como “astecas”, que aos poucos ampliaram seus domínios através de guerras e construíram templos em forma de pirâmides.

      Na época do nascimento de Juan Diego, a família estava entre as principais de seu povo, com uma situação confortável. O seu nascimento foi comemorado com grande festa. Essas datas eram muito festejadas em agradecimento a divindade que ninguém vê e que consideravam como Criador de tudo que existe, o doador da vida. Agradeciam muito pelo dom da vida que acabavam de receber, principalmente quando era um menino.

       A parteira, como de costume, recebia a criança com muito amor e cuidado cerimoniais, para saudar a criança e entregá-la a mãe. Recitava um discurso com tom de oração que selava a criança como um soldado, que deveria lutar contra seus inimigos e proteger sua família. Mas apesar das guerras contras os povos vizinhos, Juan Diego nasceu em um povoado mais afastado, chamado “Cuautitlán’ - uma região que se governava sozinha e que se dedicava ao cultivo da inteligência, do espírito e da paz.

    O primeiro choro e o primeiro banho eram cheios de símbolos representando a purificação e acompanhados com doces orações para que a água levasse consigo todas as impurezas e conservasse seu coração sempre limpo e puro.

      Antes do amanhecer, na presença de todos os amigos e familiares, a parteira apresenta a jarra com água dizendo: “Oh águia, oh tigre, oh valente homem! Chegastes a esse mundo através de sua mãe e pai, enviado pelo Grande Senhor e pela grande senhora (referindo-se a crença da Dualidade, onde o Criador possuía seu complemento feminino, não divino, não podendo ser considerado deusa), que está sobre os novos céus, fez-nos merecer seu filho oh “Quetzalcoatl”. Depois molhava seus dedos e depositava algumas gotas nos lábios da criança e em seu peito dizendo: “Prove a água celestial, pura, que lava e limpa teu coração, que tira toda sujeira, recebe-a, que ela purifique e limpe seu coração.”

        Por último a criança era entregue ao pai, que seguindo o costume previa seu destino individual. O pai de Juan Diego pegou o menino nos braços e exclamou que teria “um futuro especial, afortunado, por haver nascido num dia bom”, “seria uma pedra preciosa e duradoura”.

        Chegando ao fim desse ritual escolhia seu nome. Como não usavam sobrenomes, seria chamado como seu pai ou algum avô, ficando “Cuauhtlatoa” que vem de “Cuauhtli” – águia, “tlatoa” – falar, “huac” – como: “aquele que fala como águia”.

      Nada era realizado sem uma estrita relação com a natureza, considerada manifestação do criador e doador da vida; tudo tinha um profundo sentido religioso, pois isso dava sentido a própria existência.

        Após os rituais do parto que enchiam de paz a família, parentes e amigos presenteavam o menino com uma joia, um colar, pedras preciosas e uma pena rara.

       Naquela época, os nomes das crianças eram escolhidos pela parteira, no decorrer da cerimônia. Para tanto, a família de Juan Diego mandou fazer um escudo: um arco e quatro flechas que correspondem aos 4 pontos cardinais.

      Brincou como qualquer criança da sua idade e viveu uma infância feliz porque era muito amado e protegido por seus pais. Seus jogos, como todos os meninos que viviam no campo naquela época, eram pular; fazer desenhos na terra; colecionar sementes; brincar de arco e flecha; jogar a bola contra uma parede usando os quadris e os cotovelos tentando fazer gol num buraco.

      Suas tarefas em casa eram levar lenha, água, acompanhar seus pais ao mercado, recolher grãos de milho do solo. Foi uma criança muito saudável e forte chegando aos 74 anos, quando a media de vida era 40 anos.

      A base humana da educação que aprendeu no colégio desde pequeno (ficava longe dos pais até a formação) era que uma pessoa distinta conquista seu lugar na sociedade através dos feitos que realiza principalmente nas guerras

        Estudou no colégio “Telpochcalli”, uma instituição educacional notável pela qualidade do ensino e de direção muito rigorosa, orientada para formação de um caráter reto em seus alunos ao lado de outros meninos de famílias camponesas, onde os professores eram escolhidos entrem os melhores guerreiros, de maior reconhecimento pela valentia, valores humanos e destreza no manejo das armas.   

       Ao lado do colégio havia um templo. Seu trabalho educacional dependia da divindade “Teohuatzin”, que tinha relação direta com os sacerdotes, de culto dedicado a Dualidade e aos diversos aspectos da Natureza visível. Qualidades que representavam o ser divino, do qual não podiam ser produzidas imagens ou figuras por respeito. Já de “Teotl” podiam produzir imagens e desenhos. Essa figura representava a boa educação.

         Todos se vestiam igual, mesmo os mais ricos e de famílias do governo.

         Aos 15 anos foi para o “Calmecac”. Não teve distinções de classe, foi um menino a mais, apesar de ser de uma família de situação econômica confortável. O ensino era voltado para as virtudes e conhecimentos intelectuais, além da instrução militar, do aprendizado das artes, de todas as ciências, do trabalho com ouro e pedras, o uso da oratória, canto e dança. A grande preocupação era não deixarem os alunos ociosos em nenhum momento. As crianças eram preparadas para o sacerdócio, para as altas funções do Estado, por isso era uma educação muito severa e rigorosa. Começavam as atividades antes do amanhecer e muitas vezes comiam pouco com propósito de estarem sempre preparados para guerra.

        Juan Diego terminou seus estudos conhecendo bem a história de seu povo, retórica, gramática náhuatl e aprendeu a expressar-se com muita educação e o valor da vida de virtudes, da importância do conhecimento de Deus.

       Podia escolher sua profissão entre as várias que havia aprendido: comércio, guerreiro, lapidador de pedras preciosas, mas optou pelo cultivo de suas propriedades e a atividades artesanais mesmo sendo uma pessoa de boa instrução. 

CASAMENTO

     Como seus antepassados os pais dos noivos consultaram os calendários para escolherem a data da boda. A primeira vez que se encontrariam seria no casamento, mesmo que possivelmente tenham se visto.

       Os preparativos duravam quase uma semana, onde as mulheres preparavam chocolates, tamales doces e salgados (espécie de pamonha), pratos salgados, cachimbos para oferecer tabaco a todos, bebidas como o pulque (semelhante a tequila). 

      No dia anterior faziam uma grande festa na casa da noiva, onde as famílias podiam se conhecer melhor. Todos os amigos e familiares eram convidados e levavam muitos presentes. Ao meio dia havia um grande banquete no qual participavam somente os mais velhos, as bebidas embriagantes eram exclusivamente servidas a eles. 

     A roupa da noiva era um traje colorido bordado a mão, seus cabelos braços e as pernas eram adornados com pequenas penas coloridas.

     A cerimônia se realizava na casa do noivo. No cair da noite, os familiares do noivo chegavam, entre eles muitas senhoras e honradas casamenteiras.

     A noiva era levada em um semi leito por 2 carregadores até a casa do noivo que ia desfilando no meio de um corredor de tochas carregadas, segundo o costume, por amigos e familiares ainda solteiros. Ao chegar, a noiva desce lentamente e é conduzida pelo noivo até sua casa, onde juntos se sentaram sobre uma esteira.

      Receberam os presentes: a mãe de Juan Diego entregou um conjunto de saia e blusa – “huipil”, ambos bordados a mão, vestimenta para ocasiões muito importantes; a mãe de Maria Lucía presenteou Juan Diego com uma manta larga usada para proteger do frio – “tilma”. Após a entrega dos presentes as casamenteiras uniam a “tilma” com o “huipil”, simbolizando a união do casal.

      Os noivos jantaram numa cerimônia onde um dava de comer ao outro, simbolizando cumplicidade do matrimônio e assim terminava a cerimônia.

      Uma vez que passaram ao aposento nupcial ficaram em oração por 4 noites e 4 dias, saiam somente para oferecer incenso no altar familiar ao meio dia e a meia noite.

      Ambos viveram a castidade, uma vez batizados Juan Diego e Maria Lucia decidiram viver a continência. A religiosidade asteca era sumamente sensível ao valor da castidade e virgindade: muitos homens mais humildes ficavam muitos anos sem se casarem ou morriam solteiros por não encontrarem mulheres, uma vez que a corte ficava com a maioria para trabalharem.

       Entre os convidados estava a índia Cuauhtitlán, conhecida como Juana Martín após batismo, doadora de alguns dos terrenos onde hoje se encontra a Basílica de Guadalupe.

       Seu tio, Juan Bernardino, era irmão de seu pai. Juan Diego sempre se refere a ele como “Motlaltzin” (meu tio muito querido). Quando era ainda um recém-nascido sua mãe ofereceu a seu tio sua guarda, dividindo com a família a responsabilidade de criá-lo e educa-lo. Ao aceitar a guarda do menino seu tio assumia a responsabilidade de acompanhá-lo em sua educação, ajuda-lo a escolher uma boa esposa, alguém que tivesse sua educação e condição e mesmo depois de casado, seu tio seguiu assistindo-o em tudo que podia

         Se fosse irmão de sua mãe o chamaria de usando “teltal” ou “tlali”.

Juan Diego acompanhou seu tio na velhice e houve entre ele um grande carinho e compreensão, dividiam o trabalho doméstico e as tarefas familiares.

         Em 1524, aos 48 anos foi batizado na Igreja Católica, passa a chamar-se Juan Diego. 

       Juan Diego ou “Tzin”. “Tzin”, diminutivo que significa 2 coisas: honra e senhorio digno de respeito, afeto e carinho. Quando uma pessoa nomeava alguém ou algo com “tzin” ressaltava o carinho que possuía.

      Ao referir-se a  Santíssima  Virgem, significava;  majestade e  grandeza, além um sentimento de submissão amorosa.

         Quando a Virgem se dirige a Juan Diego por “Juan Diegotzin” significava; digno de respeito.

   

CANONIZAÇÃO

      

        Em 1998, foi criada uma Comissão Histórica para analisar as provas da existência de Juan Diego, que foram decisivas no processo de canonização do beato índio, pela Congregação Vaticana para as Causas dos Santos. Fidel Gonzalez Fernandez, professor de história Eclesiástica nas Universidades Pontifícias Urbaniana e Gregoriana, reconhecido como um dos maiores especialistas foi nomeado presidente da Comissão.

         A Comissão formada por uns 30 investigadores de diversas nacionalidades.

      Foram apresentados 27 documentos ou testemunhos indígenas guadalupanos e 8 de origem mista indo-espanhol. Entre todos eles, destaca o “El Nican Mopohua” e o chamado Códice “Escalada”.

     “El Nican Mopohua”, do escritor índio Antonio Valeriano, constitui um testemunho privilegiado do processo de transculturação do cristianismo da Nova Espanha. Cada palavra tem seu significado dentro da filosofia e mitologia “nahuas” (náhuatl era o dialeto da época, composto de escrita e símbolos) assim como cristãs respectivamente. Seu autor, um indígena de raça “tecpaneca” pura, foi testemunha, viveu entre 1520 e 1606, sobrinho do imperador Montezuma.

      Aos 13 anos, em 1533, testemunha do impressionante trabalho que realizaram os missioneiros - entrou para estudar no Colégio de San Cruz de Tlatelolco, fundado pelo bispo Juan de Zumárraga, um dos primeiros índios a falar latim. Foi governador de Azcapotzalco durante 35 anos.

          Tinha 11 anos em 1531, ano das aparições e 28 em 1548, quando morreu Juan Diego.

         O Códice “Escalada”, assinado pelo índio Antonio Valeriano e o espanhol Frei Bernardino de Sahagún, recém-descoberto, constitui um testemunho direto da historicidade de Juan Diego, pois contam uma espécie de “ata de falecimento” do indígena.

        Além dos Códices existe ainda a tradição oral, fonte decisiva para estudar os povos mexicanos, cuja cultura era principalmente oral. Nesses casos, costuma-se obedecer regras bem precisas e no caso de Guadalupe, confirma a figura histórica e espiritual de Juan Diego.

       A historicidade do beato ficou tão fundamentada que o presidente da Comissão pela Congregação Romana para as Causas dos Santos, Fidel Gonzalez, está estudando as origens sociais de Juan Diego.

Outros documentos relevantes que comprovam a veracidade de sua existência:

1. O testemunho de Juana Martín, de 11 de março de 1559, vizinha de Juan Diego. O original em náhuatl está guardado até hoje na Catedral de Puebla, que fica 200km do local das aparições.

2. O texto “El Inin Huey Tlamahuizoltin”, escrito em náhuatl, composto em 1580, pelo Padre Juan González, intérprete do Bispo Zumárraga que coincide com o Códice “Nican Mopohua”.

3. O “El Nican Motecpana”, escrito em náhuatl em 1600, por Fernando de Alba Ixtlilxóchitl (1570-1649), bisneto do último imperador “chichimeca” (grupo indígena de Juan Diego) aluno do colégio de Santa Cruz, que foi governador de Texcoco, escritor e herdeiro dos papéis de Valeriano. Esse documento revela dados importantes da vida santa de Juan Diego, bem como alguns milagres da Virgem no templo que havia sido construído no local de suas aparições.

4. O testamento de Juan Diego, manuscrito do século XVI, conservado em um Convento Franciscano de “Cuautitlán” (atualmente é um bairro da cidade do México).

5. Documentos publicados por Don Miguel Sánchez – em 1648, Don Luis de Becerra Tanco – em 1675, pelo Padre Francisco de Florência – em 1688 e Don Carlos de Sigüenza e Góngora – em 1688; que contam as histórias das aparições e registram a existência do indígena.

       

HOMILIA DO SANTO PADRE JOÃO PAULO II

Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe Quarta-feira, 31 de Julho de 2002.

 

                                                        1.Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste

                                                        estas  coisas  aos  sábios  e  inteligentes,  e  as  revelaste  aos

                                                        pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado!”

                                                                     (Mt 11, 25-26).

 

             Imagem oficial da Canonização

     Queridos Irmãos e Irmãs, estas palavras de Jesus no Evangelho deste dia constituem, para nós, um convite especial para louvar e dar graças a Deus pela dádiva do primeiro Santo indígena do Continente americano.

      É com grande alegria que fiz a peregrinação até esta Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, coração mariano do México e da América, para proclamar a santidade de Juan Diego Cuauhtlatoatzin, o índio simples e humilde que contemplou o rosto dócil e sereno da Virgem de Tepeyac, tão querido a todas as populações do México.

2. Agradeço as amáveis palavras que me foram dirigidas pelo Senhor Cardeal Norberto Rivera Carrera, Arcebispo da Cidade do México, assim como a calorosa hospitalidade dos homens e das mulheres desta Arquidiocese Primaz: dirijo-vos a todos a minha cordial saudação. Saúdo também com afeto o Senhor Cardeal Ernesto Corripio Ahumada, Arcebispo Emérito da Cidade do México, e os outros Purpurados, Bispos do México, da América, das Filipinas e de outras regiões do mundo.

      Agradeço igualmente, e de maneira particular, ao Senhor Presidente da República e às Autoridades civis a sua presença nesta celebração. Hoje, dirijo uma saudação muito especial aos numerosos indígenas provenientes das diferentes regiões do País, representantes das diversas etnias que compõem a rica e multiforme realidade mexicana. O Papa manifesta-lhes a sua proximidade, o seu profundo respeito e admiração, enquanto os recebe fraternalmente em nome do Senhor.

3. Como era Juan Diego? Por que motivo Deus fixou o seu olhar nele? Como acabamos de escutar, o livro do Eclesiástico ensina-nos que somente “Deus é todo-poderoso e apenas os humildes o glorificam” (cf. 3, 19-20). Inclusive, as palavras de São Paulo, também proclamadas durante esta celebração, iluminam esta maneira divina de realizar a salvação: “Deus escolheu aquilo que o mundo despreza [e que é insignificante].  Deste modo, nenhuma criatura se pode orgulhar na presença de Deus” (cf. 1 Cor 1, 28-29).

     É comovedor ler as narrações guadalupanas, escritas com delicadeza e repletas de ternura. Nelas, a Virgem Maria, a escrava “que proclama a grandeza do Senhor” (Lc 1, 46), manifesta-se a Juan Diego como a Mãe do Deus verdadeiro. Ela entrega-lhe, como sinal, um ramalhete de rosas preciosas e ele, mostrando-as ao Bispo, descobre gravada no seu manto “tilma” a imagem abençoada de Nossa Senhora.

   “O acontecimento guadalupano como afirmaram os membros da Conferência Episcopal Mexicana significou o começo da evangelização, com uma vitalidade que ultrapassou qualquer expectativa. A mensagem de Cristo através da sua Mãe assumiu os elementos centrais da cultura indígena, purificou-os e atribuiu-lhes o definitivo sentido de salvação” (14 de Maio de 2002, n. 8). Desta maneira, Guadalupe e Juan Diego possuem um profundo sentido eclesial e missionário, e constituem um paradigma de evangelização perfeitamente inculturada.

4. Com o salmista, acabamos de recitar: “Do céu, o Senhor contempla e vê todos os homens” (Sl 33 [32], 13), professando uma vez mais a nossa fé em Deus, que não considera as diferenças de raça ou de cultura. Ao acolher a mensagem cristã, sem renunciar à sua identidade indígena, Juan Diego descobriu a profunda verdade da nova humanidade, em que todos são chamados a ser filhos de Deus em Cristo.

       Desta forma, facilitou o encontro fecundo de dois mundos e transformou-se num protagonista da nova identidade mexicana, intimamente vinculada a Nossa Senhora de Guadalupe, cujo rosto mestiço dá expressão da sua maternidade espiritual que abarca todos os mexicanos. Por isso, o testemunho da sua vida deve continuar a dar impulso à edificação da Nação mexicana, a promover a fraternidade entre todos os seus filhos e a favorecer cada vez mais a reconciliação do México com as suas origens, os seus valores e as suas tradições.

     Esta nobre tarefa de edificar um México melhor, mais justo e mais solidário, exige a colaboração de todos. Em particular, hoje em dia é necessário apoiar os indígenas nas suas aspirações legítimas, respeitando e defendendo os valores autênticos de cada um dos grupos étnicos. O México tem necessidade dos seus indígenas e os seus indígenas precisam do México!

      Amados Irmãos e Irmãs de todas as etnias do México e da América, ao exaltar neste dia a figura do índio Juan Diego, desejo expressar-vos a proximidade da Igreja e do Papa em relação a todos vós, enquanto vos abraço com amor e vos animo a ultrapassar com esperança as difíceis situações por que estais a passar.

5. Neste momento decisivo da história do México, tendo já passado o limiar do novo milênio, recomendo à valiosa intercessão de São Juan Diego as alegrias e as esperanças, os temores e as angústias do querido povo mexicano, que trago com muito afeto no íntimo do meu coração.

       Ditoso Juan Diego, índio bondoso e cristão, em quem o povo simples sempre viu um homem santo! Nós te suplicamos que acompanhes a Igreja peregrina no México, para que seja cada dia mais evangelizadora e missionária. Encoraja os Bispos, sustenta os presbíteros, suscita novas e santas vocações, ajuda todas as pessoas que entregam a sua própria vida pela causa de Cristo e pela difusão do seu Reino.

       Bem-aventurado Juan Diego, homem fiel e verdadeiro! Nós te recomendamos os nossos irmãos e as nossas irmãs leigos a fim de que, sentindo-se chamados à santidade, penetrem todos os âmbitos da vida social com o espírito evangélico. Abençoa as famílias, fortaleça os esposos no seu matrimônio, apoia os desvelos dos pais, empenhados na educação cristã dos seus filhos. Olha com solicitude para a dor dos indivíduos que sofrem no corpo e no espírito, de quantos padecem em virtude da pobreza, da solidão, da marginalização ou da ignorância. Que todos, governantes e governados, trabalhem sempre em conformidade com as exigências da justiça e do respeito da dignidade de cada homem individualmente, para que desta forma a paz seja consolidada.

      Amado Juan Diego, a “águia que fala”! Ensina-nos o caminho que conduz para a Virgem Morena de Tepeyac, para que Ela nos receba no íntimo do seu coração, dado que é a Mãe amorosa e misericordiosa que nos orienta para o Deus verdadeiro.

       No final da celebração, antes da Bênção apostólica, o Santo Padre disse: “Ao concluir esta Canonização de Juan Diego, desejo renovar a minha saudação a todos vós que nela pudestes participar, alguns nesta Basílica, outros nos arredores e muitos outros ainda através da rádio e da televisão. Agradeço de coração o afeto de todas as pessoas que encontrei pelas ruas que percorri. No novo Santo, encontrais o maravilhoso exemplo de um homem justo, de costumes retos, leal filho da Igreja, dócil aos pastores, amante da Virgem e bom discípulo de Jesus. Ele seja um modelo para vós, que muito o amais, e oxalá interceda pelo México, a fim de que seja sempre fiel. Levai a todos quantos a mensagem desta celebração, além da saudação e do afeto do Papa a todos os mexicanos.

          

• MENSAGEM DOS BISPOS MEXICANOS SOBRE A CANONIZAÇÃO DE JUAN DIEGO CIDADE DO MÉXICO

 6 de junho de 2002 (ZENIT.org)

                

        Apresentamos a mensagem dos bispos mexicanos publicada na espera da canonização do beato Juan Diego Cuauhtlatoatzin ao Povo de Deus e a toda pessoa de boa vontade

1. Depois de ter celebrado o mistério da morte e ressurreição de Jesus Cristo na Páscoa dos Pastores do Povo de Deus no México, queremos compartilhar com vocês, irmãs e irmãos, nossa alegria pela canonização do Beato Juan Diego Cuauhtlatoatzin no próximo 31 de julho do presente ano de 2002 e a beatificação, em 1 de agosto, de Juan Bautista e Jacinto de lós Angeles, mártires ou oaxaqueños en los albores da evangelização do nosso país. Pedimos a todos que se preparem na oração, na reflexão e na celebração para viver este tão importante acontecimento da nossa vida eclesiástica.

• QUINTA VISITA DE JOÃO PAULO II

2. João Paulo II nos visitará pela quinta vez. Reiteradamente manifestou seu amor pelo México, e descobriu, aos pés de Nossa senhora de Guadalupe, o matiz evangelizador e itinerante que teria seu pontificado, para iluminar a homens e mulheres com a verdade de Jesus Cristo. Seu exemplo de entrega incansável é para todos os membros da igreja um estímulo e testemunha viva de como impulsionar a Nova Evangelização. Será uma nova oportunidade para que correspondamos com afeto e entusiasmo, reiterando nossa fidelidade a Jesus Cristo e a sua Igreja em comunhão com o sucessor de São Pedro na Cátedra de Roma.

• O CAMINHO DE JUAN DIEGO

3. Juan Diego é membro de uma cultura indígena com valores familiares e sociais que serviram de base para a vocação recebida depois de ter sido batizado.

4. Esta existência adquire um novo significado com o sucedido no mês de dezembro de 1531, na colina de Tepeyac. Este acontecimento, tendo como protagonistas a Mãe do verdadeiro Deus por quem se vive, o mesmo Juan Diego, o bispo Frei Juan de Zumárraga e Juan Bernardino: desde então, o laico Juan Diego está indissoluvelmente unido ao Fato Guadalupano.

5. Juan Diego é o embaixador fiel que, em contato com a cheia de graça, reconheceu o Verdadeiro Deus por quem vive e o Filho que ela trazia consigo; e movido pela ação do Espírito Santo, se colocou ao serviço da obra anunciada pela Virgem Maria.

6. Em diversas ocasiões e com diversos sinais se apresentou diante do Frei Juan de Zumárraga, cabeça visível da incipiente Igreja em México, transmitindo a ele e a ninguém mais o desejo da “menina celestial”, até conseguir sua encomenda.

7. O vidente e embaixador se deixou envolver pelo Espírito divino e aceitou se converter em testemunha de tudo o que tinha acontecido a favor de seus irmãos, cooperando desta forma na aproximação do mundo indígena com o mundo espanhol.

8. O fato Guadalupano significou o começo da evangelização com uma vitalidade que superou toda expectativa. A mensagem de Cristo através da sua Mãe tornou-se elemento central da cultura indígena, purificou e deu o definitivo sentido da salvação aos índios; assim se converteu no modelo de evangelização inculturada e um objetivo para todos os membros da evangelização que trabalham para fazer presente os valores do Evangelho nas culturas da sociedade mexicana.

• SIGNIFICADO PARA A IGREJA NO MÉXICO

9. Um santo é patrimônio da Igreja universal e modelo de vida para toda pessoa aberta a verdade. Juan Diego é um santo que se oferece ao indígena, ao mestiço e ao crioulo, ao menino, ao jovem e ao adulto. “Todos os cristãos – como nos recorda o Papa João Paulo II em sua carta apostólica Novo Milênio INEUNTE no 30 – são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição do amor”. O profesionista, a dona de casa e o clérigo podem encontrar em Juan Diego uma inspiração para saber valorizar o que são e o que estão chamados a realizar no ambiente em que vivem, para semear sementes de justiça, amor e paz e ajudar para que frutifiquem.

10. Canonizar um batizado significa que a autoridade competente da Igreja declara, pública e solenemente, que a existência de tal pessoa tem sido uma forma autêntica de encarnar o Evangelho de Jesus Cristo. Por ele, o santo é digno de veneração e invocação, e sua forma de vida um exemplo inspirador para que outros vivam a própria vocação no segmento radical de Cristo até chegar ao encontro definitivo com o Pai no reino dos céus.

11. A canonização do Beato Juan Diego se levanta como nova voz que chama à santidade todos os batizados. Queremos a presença de cada um deles na formação de um tecido social mais civilizado e mais inspirado na mentalidade da Santa Maria de Guadalupe: mostrar o amor e a ternura de Deus para todos os moradores destas terras, Diego é, por outra parte, uma forma de dignificar o indígena, tantas vezes marginalizado e menosprezado em nossa pátria.

12. Além disso, se faz evidente o amor providencial da Igreja e do Papa pelos indígenas; e reiteram novamente o firme repúdio às injustiças, violências e abusos de que foram objeto ao longo da historia. A Igreja contempla e convida a contemplar os autênticos valores indígenas com amor e esperança. O Papa, com a canonização, reanima aos povos autóctones do México e América a que conservem com santo orgulho a cultura de seus antepassados e apoia a todos os indígenas em suas legítimas aspirações e justas reivindicações.

13. A vida de Juan Diego tem de ser um renovado estímulo na construção da nação mexicana para que exista uma reconciliação com suas origens, com sua história, com seus valores e tradições. Nação na qual o progresso esteja fundamentado no valor da pessoa humana com todos seus direitos inalienáveis. Onde a confluência da diversidade encontre a comunhão na busca criativa. Onde as leis que salvaguardem a convivência assegurem a justiça e a solidariedade. Onde os mais fracos encontrem salvaguardada sua dignidade e aos mais favorecidos, apoio eficiente para a fraternidade.

• CONCLUSÃO

14. A canonização de Juan Diego é a realização da promessa que a Menina de Tepeyac fez a seu querido Juan Dieguito, lhe garantiu e se realizou: Tenha certeza de que muito te agradecerei e te pagarei, que por ele te enriquecerei, te glorificarei, e muito de ali? merecerás que eu retribua teu cansaço, com quem vai solicitar o assunto a que te envio”(Nicán Mopohua). Te pedimos a esta doce Mãe da nação mexicana, padroeira da América e de Filipinas, que nos ajude a assimilar sua pedagogia para realizar uma evangelização inculturada em todos os territórios, ambientes e setores do México e da América e interceda para que os homens aprendam a amar e aceitar (quem?) como filhos de um mesmo Pai. 

               

                                                                                 México, D. F. A 14 de maio de 2002.

Pelos Bispos de México:  

• Mons. Luis Morales Reyes Arcebispo de San Luis Potosí Presidente da CEM

• Mons. J.Guadalupe Martín Rábago Bispo de Leon Vice-Presidente da CEM

• Mons. Abelardo Alvarado A. Bispo Aux. do México Secretario Geral da CEM 

• Mons. J. Guadalupe Galván Galindo Bispo de Torreón Tesoureiro Geral da CEM 

• Mons. Ricardo Watty Urquidi Bispo do Novo Laredo Vocal

• Mons. Javier Navarro Rodríguez Bispo de San Juan de los Lagos Vocal

         

                                   San Juan Diego, rogai por nós.

 

G23.jpg
G24.jpg
G26.jpg
G25.jpg
G27.jpg
bottom of page